SILENT HILL 2
O BAILE DOS MALDITOS



COReplay - 29 / 05 / 07

 

Uma carta misteriosa escrita por uma pessoa que morreu há três anos atrás. O pedido de um reencontro num "lugar especial": SILENT HILL. Aqui começa o pesadelo de James Sunderland, um homem cujo sofrimento o fez esquecer o que é ser humano e que o levará à presença da monstruosidade. E nós vamos vivê-lo com ele.

Abre-se a porta para um universo paralelo de ruas abandonadas e recantos obscuros. O caminho mais óbvio para o nosso destino estará sempre vedado. Será que a sua mulher Mary ainda vive neste recanto esquecido do mundo? A cada passo James encontra mais perguntas que respostas, mas a mensagem daquela carta não o abandona. Num momento magnífico teremos que atravessar o lago da cidade num barco a remos, envoltos num nevoeiro denso, para chegar ao nosso desejado destino, o Hotel Lakeview, guiados apenas por uma luz distante. Ali será revelada toda a verdade.

Qualquer um dos quatro capítulos desta saga seria digno de nota. Mas
SILENT HILL 2 acaba por ser, até ao momento, o mais bem conseguido na intersecção entre o rigor gráfico que as capacidades da PS2 (na altura recém-estreada) lhe permite e a excelência da narrativa criada para esta obra. Consegue trazer o melhor da primeira parte, a atmosfera oprimente e o negrume da história, combinando-o com a execução técnica visual e sonora sublime que viria a caracterizar os seus sucessores. Como influência terá certamente tido
RESIDENT EVIL mas, enquanto que a Capcom optou por uma abordagem mais visceral e action-based, a Konami fixou-se na dimensão psicológica do terror, garantindo um maior impacto emocional.

As personagens são escassas mas inesquecíveis. A atenção dada ao detalhe foi total, apostando-se na minúcia na caracterização de cada pormenor físico e psicológico. As imperfeições tornam cada uma delas mais humana e potenciam a empatia com o jogador. As frases e diálogos são curtos e crípticos. Cada palavra parece ter um significado oculto, uma intenção velada. Tememos por e com o protagonista ao abrir cada porta sem sabermos o que se esconde do outro lado.

Com o desenrolar da narrativa vão-se revelando as motivações de cada um, deciframos o palimpsesto das suas psiques, os traumas esquecidos que vêm à superfície. Silent Hill é uma cidade de residentes e visitantes atormentados: cada um carrega o fardo dos actos que perpetraram ou de que foram vítimas, lugar apocalíptico onde a verdade é revelada, purgatório onde enfrentam os seus pecados. É um teatro de horrores e o palco onde "dançam" os demónios que atormentam cada personagem, materializados nos corpos desmembrados de cada criatura que nos ataca, metáforas visíveis de sonhos e esperanças mutilados.

A composição sonora de Akira Yamaoka é sublime, oscilando entre os temas melódicos e evocativos e os mais electrónicos, metálicos e dilacerantes. A ilusão fica completa e é indistinguível neste trabalho onde acaba a música e começam os efeitos sonoros. Garante-se a continuidade e a fusão entre ambos - a atmosfera é irrespirável mesmo jogando de olhos fechados. Caminha-se por ruas cheias de silêncio, de súbito um choro distante e anónimo fruto de uma qualquer tragédia esquecida. O turbilhão de sensações é extremo.

Por entre esta tapeçaria de sombras e nevoeiro o jogador vivencia uma total imersão.
SILENT HILL 2 destila a arte do horror e o prazer de criar (e ter) medo. Muito mais que um videojogo é uma experiência sensorial e intelectual, um evento artístico que nos incorpora e do qual nunca nos esqueceremos.

A mão hesita sobre o on/off da consola, tememos submergir-nos de novo naquela cidade maldita. Superamos o medo, a vontade é mais forte. Apagam-se as luzes, que comece o terror…


 

A música e efeitos sonoros de Silent Hill 2 (tal como a de toda a saga) são da autoria de Akira Yamaoka. Formado em design de produtos e de interiores, foi a sua carreira de músico freelancer que o levou à Konami. Participou em videojogos como Sparkster, International Superstar Soccer, Snatcher ou na saga Dance Dance Revolution. Em Silent Hill 4, para além do trabalho sonoro, foi também produtor geral.

Este ano, Yamaoka foi um dos criativos seleccionados para fazer parte da convenção Hoppers, organizada por Suda Goichi, nomeadamente através de um concerto ao vivo onde tocou para um público reservado.

Outro dos nomes que sobressaem entre os criativos de Silent Hill 2 é Takayoshi Sato. O seu trabalho na composição das personagens e nas sequências CGI é inesquecível pela sua humanidade. Trabalhou com a Konami em Sexy Parodius e depois em Silent Hill. Foi Director Creativo desta programadora nos EUA onde também colaborou com a Electronic Arts em Goldeneye: Rogue Agent. Neste momento está ligado a dois projectos ainda sem título para consolas de nova geração.

 

 

 

 
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