TOMB RAIDER
ANNIVERSARY

O REGRESSO DA RAÍNHA


texto de Dieubussy
COREgaming - 07 / 08 / 07

 

Belo e misterioso: assim se pode descrever TOMB RAIDER, um dos mais ambiciosos videojogos alguma vez produzidos. Decorria o ano de 1996 quando o público veio a descobrir aquele que se viria a tornar o mais célebre dos ícones femininos dos videojogos, Lara Croft (originalmente, Lara Cruz) a criação apaixonada de Toby Gard. Destinado ao sucesso, o produto ganhou autonomia, levando o seu criador a aperceber-se de que era impossível travar a marcha da máquina comercial que a sua criação tinha gerado: Gard abandonou a Core Design antes mesmo da pré-produção de TOMB RAIDER II. A imagem da atraente exploradora de túmulos de sotaque britânico, inteligente, ágil e determinada foi substituida por a de um manequim que figurava em pósteres, capas de revista e até filmes de Hollywood. Eventualmente, todo este marketing de mau gosto denegriu a própria reputação do jogo.

No entanto, foram necessários vários jogos para que a Core se apercebesse de que não basta reinventar o mesmo conceito incessantemente de forma a agradar os seguidores da série. A criatividade necessária para suportar o peso deste tremendo sucesso perdeu-se algures entre o jogo original e as sequelas. O público foi categórico na forma como renegou aos últimos capítulos das crónicas de Lara e a decisão de readmitir Toby Gard, assim como a de passar o projecto para a mão de uma companhia mais talentosa, surtiu os seus efeitos. Apesar de ser um jogo curto e em muitas secções defeituoso, TOMB RAIDER LEGEND recapturou alguma da genialidade do primeiríssimo título, inaugurando toda uma nova jogabilidade, motor gráfico e apresentando-nos uma Lara Croft actualizada pela mão do seu criador.

Todavia é com Anniversary que todo o trabalho efectuado em 2005 se torna realmente compensador. Este título, a início um suposto rumor, tornou-se quiçá o mais importante desde o jogo original, criado 11 anos antes. Mais do que um remake, TOMB RAIDER ANNIVERSARY é um elogio a um dos melhores jogos de sempre e um dos favoritos do público, na forma apaixonada como recria uma das mais épicas aventuras que o mundo dos videojogos pôde conhecer.

O verdadeiro fio condutor deste jogo reside na suave transição entre secções de acção e os momentos de paragem em que observamos qual o ponto pelo qual vamos abordar o nível. Se o jogo original era complexo, em grande parte devido à nossa inaptidão para explorar a liberdade de mundos verdadeiramente tridimensionais, Anniversary equilibra-se entre a dificuldade de alguns puzzles e a fluidez de jogo: Lara inaugurou o género de aventura e acção 3D, fortemente baseado nas secções de plataformas de PRINCE OF PERSIA (1989), e continua a ser invicta neste terreno. O planeamento da área de jogo não passou por uma mera actualização mas sim por uma quase completa reformulação mecânica. Por outro lado denota-se um grande respeito pelas soluções estilísticas da primeira entrega, que aqui foram adaptadas aos volumes mais orgânicos e à movimentação livre da personagem que o hardware agora permite. Onde os diversos níveis eram fragmentos da crónica de Lara, processada num 3D primitivo - mas arrojado - agora encontramos uma surpreendente conexão entre níveis onde é quase imperceptível qualquer transição.

Dito isto, não se pode deixar de mencionar a sua beleza gráfica, uma reinvenção inspirada e minuciosa dos níveis do jogo original que surpreende, progressivamente, os verdadeiros conhecedores dos cantos e recantos das diversas localizações. Com esta nova entrega é possível vislumbrar uma nova dimensão espacial que nos tinha sido ocultada até agora: o céu era simplesmente inexistente em 96 devido a insuficiências do motor gráfico. Talvez por essa razão esta nova aventura esteja repleta de aberturas para o céu e para a luz que rompe cada janela, cada clareira.

Para conferir maior diversidade ao gameplay, a Crystal Dynamics adoptou alguns engenhos de Legend, ainda que o uso de armas não tenha totalmente optimizado. O novo sistema de lock-on é uma adição desnecessária para um jogo onde os encontros com inimigos verdadeiramente desafiantes são raros e pouco apelativos. A essência de TOMB RAIDER habita no desejo do jogador - nunca tão activo - se aprofundar pelos níveis, de temer cair de grandes alturas, de calcular, nervosamente, o próximo salto enquanto se sente assoberbado pela dimensão e singularidade de cada novo lugar visitado. E é precisamente nesta deambulação pelos cenários, no contacto com os espaços míticos que habita o espírito de exploração e aventura que são características de TOMB RAIDER.

Todas as secções lendárias do jogo original marcam aqui a sua presença, desde o Túmulo de Qualopec até ao desafio de Saint Fancis Foley, aqui com uma genial variação na secção de Poseidon. Os níveis do Egipto, certamente os mais memoráveis da primeira aventura, foram mantidos na sua íntegra e inclusivamente melhorados, aspecto demonstra o trabalho imaginativo por detrás do desenho de cada mecanismo, de cada interacção. É extremamente gratificante comprovar que existem momentos inteiramente dedicados aos jogadores que acompanharam de perto o jogo original, mesmo que TOMB RAIDER ANNIVERSARY seja um jogo universal e acessível a qualquer um, independentemente das suas passadas experiências com os videojogos.

Já a excelsa banda sonora que acompanhou todos os que experimentaram o original se esvaneceu, incompreensivelmente, entre os sons de ambiente de Troels B. Folmann. O tema original persiste, agradavelmente recapturado, contudo exigia-se algo mais etéreo e memorável como pudemos ouvir no passado - temas de tal força expressiva nunca deveriam ter sido excluídos. Um desrespeito pelo valor real do acompanhamento musical no jogo somente compensado pela sua sonoplastia, aspecto que reforça a intensidade e credibilidade deste entorno. Outro ponto em que não se verificou nenhuma evolução foi o guião que, claramente, não sofreu qualquer melhoria substancial.

Não obstante, TOMB RAIDER não se serve da trama como elemento principal: tudo não passa de um pretexto para poder visitar localizações remotas. O artefacto que Lara procura, Scion of Atlantis, é um mero símbolo que facilmente se dissipa na mente do jogador, abstraído na adversidade e solidão da experiência. O instinto de sobrevivência, o deleite de superar cada obstáculo são os derradeiros desafios e, em simultâneo, os prazeres que esta magnífica aventura oferece.

 

Tomb Raider Anniversary é o oitavo jogo da série de Lara Croft, não contando com os episódios para consolas portáteis, desde o original lançado em finais de 1996.

Segundo Toby Gard, a decisão de abandonar o projecto teve origem na forma gananciosa como a Eidos lidou com o sucesso do jogo.

Tomb Raider é um dos jogos mais influentes dos últimos anos e tem encorajado pequenos estúdios a investir nos seus projectos. Por sua vez, também ele é fortemente inspirado em alguns jogos, dos quais se pode destacar Prince of Persia de Jordan Mechner. A mecânica de jogo é extremamente semelhante, desde o cálculo dos saltos até aos movimentos das personagens. Alguns apontam o jogo da Core/Eidos como o verdadeiro sucessor da obra de Mechner.

O estúdio da Crystal Dynamics também foi o responsável pela escalada ao 3D do jogo Blood Omen: The Legacy of Kain, através de um dos jogos mais conceituados da sua época, The Legacy of Kain: Soul Reaver. Irónicamente, o seu título era visto por muitos como uma alternativa aos jogos de Lara rivalizava, certamente, com este a nível técnico. O seu impressionante motor gráfico permitia uma inédita fluidez de jogo já que não recorria a tempos de carregamento entre secções.

Para a feitura deste jogo, alguns membros da equipa, sobretudo level-designers, voltaram a jogar o jogo original vezes e vezes sem conta, de forma a tentar recapturar, nas suas mentes, o espírito do jogo original.

A aventureira Lara Croft foi contratada para recuperar as peças de um artefacto antigo conhecido por Scion. Com o seu intrépido estilo acrobático, Lara corre, salta, nada e trepa, abrindo caminho até à verdade das duas origens e poderes - deixando apenas um rasto de túmulos vazios e cartuchos de munições atrás dela (descrição do jogo original para Sega Saturn).

 

 

 

 
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