Trigger Happy
A apologia do jogador comum



Beyond - 28 / 05 / 07

 

Na vasta e diversificada literatura existente sobre videojogos, é difícil discernir entre aquela que aborda temas originais e inovadores e aquela que se limita a reimprimir ideias que outros, por sua vez, instauraram. TRIGGER HAPPY, de Steven Poole, é o perfeito exemplo de que nem sempre é necessário contextualizar o leitor com mais lições de história dos videojogos - até porque já existem muitas outras fontes literárias a fazê-lo - para tornar este exercício mais aprazível. Este é um texto que pretende atingir uma certa universalidade e que apresenta uma perspectiva verdadeiramente analítica de um assunto tantas vezes tratado com escárnio ou despego.

A introdução não poderia ser mais cativante. Poole explica-nos o seu percurso pelos jogos, os primeiros contactos com os computadores domésticos, nomeadamente o Spectrum, como os jogos deixaram de estar na sua principal esfera de interesses e como ele, a par de muitos outros ávidos jogadores de outrora, foram resgatados pela geração 32-Bit - ou o fenómeno Playstation. Desde logo nos apercebemos que este é um livro extremamente pessoal onde teremos acesso a reflexões íntimas e profundas sobre a experiência única do gameplay que só os videojogos oferecem. O autor não se apresenta como um especialista, um historiador dos videojogos. Tão apenas se vai concentrar nas experiências vividas ao longo da sua vida, sinceras e emocionantes, ainda que através de um dos mais ousados exercícios teóricos existentes.

Ao longo dos capítulos reencontramo-nos com os objectivos por detrás de cada género videolúdico assim como as interacções entre jogos e o público, as suas reacções e repercussões naqueles que criam os jogos. Todavia o aspecto mais distinto de TRIGGER HAPPY são as constantes análises à semântica dos videojogos - Poole é incessante nas suas sondagens à lógica dentro da realidade de cada espaço de jogo. É surpreendente a forma como compreendemos que até os jogos mais elementares e populares possuem frequentes mensagens formais. Como que expostos a uma revelação, reconhecemos os ícones e símbolos dentro dos videojogos como canais de mensagens, algumas verdadeiramente poderosas ainda que frequentemente ignoradas. Como em qualquer outra forma de expressão artística, também os videojogos partilham um tempo para a pura abstracção do mundo real, para o prazer, e outro para a assimilação da informação neles contida: o perfeito exemplo da fusão entre arte, media e indústria.

Contudo o próprio limite dos conhecimentos de Poole sobre os videojogos e a sua história, a par de oferecer uma base sólida para explorar aspectos inesperados e absolutamente originais nesta temática, também se impõe como uma forte limitação aos horizontes do texto: o livro debate-se sobre um reservado número de jogos que o autor conhece, o que abre alguma margem para erros e más concepções. Trata-se da clássica imagem da espada de dois gumes: a ligação recentemente reactivada com os jogos de video é um ponto ideal para opiniões alternativas mas é, inevitavelmente, afectada pela baixa cultura e índice de referências video lúdicas, só compensadas pela cultura geral do autor.

Somando as partes, a experiência que este livro oferece é extremamente positiva. Mesmo que muito tenha ficado por explorar - quem sabe, num próximo texto - TRIGGER HAPPY é um exemplar ponto de partida para um novo estádio na forma como observamos uma das formas de arte mais rentáveis e abundantes em conteúdos que alguma vez se conheceu.



AUTORIA: Steven Poole

NÚMERO DE PÁGINAS: 304

EDITORA: Arcade Publishing (N.Y.)

ISBN-10: 1565125452

ISBN-13: 978-1565125452

LÍNGUA: Inglês

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